sábado, 26 de janeiro de 2013

SOBRE APRENDER UM TERCEIRO IDIOMA


Confesso que quando vi que estava na hora de eu dominar outra língua além do inglês, eu fui direto na “mais fácil”, o espanhol. Não teve nada de romantismo na minha escolha. Atirei-me nesta porque eu precisava de horas complementares pra faculdade, o idioma era parecido com o português, praticar nos países falantes não seria impossível (pois não vivo tão longe dos outros países do Mercosul) e, lááá no fundo, eu nutria certa curiosidade sobre a cultura dos vizinhos de fronteira. Outra vantagem cômoda de eu estudar espanhol é que este idioma era ensinado no CCAA, e como passei um pedaço considerável da minha vida dentro desta rede, eu já sabia que a metodologia funcionava muito bem comigo.
Assim, no início de 2009, comecei esta significante jornada. Lembro que a minha primeira turma foi sofrida. Era eu e mais duas tias lá na casa dos seus 40 e todos. No final do semestre, elas ainda diziam tú és ao invés de tú eres (e isso é a segunda coisa que se ensina – a primeira é yo soy). Foi um início, no mínimo, chato.

Que burras! Dá zero pra elas.

Antes do segundo semestre, realizei meu sonho de mochilar pela Europa e testei o meu parco espanhol pela primeira vez. Foi aí que a coisa começou a andar. Pra minha surpresa, já dava pra ver que o portunhol estava ficando pra trás. A minha interação com os locais em Barcelona e Madri foi muito boa e voltei de lá satisfeito com o meu primeiro teste.
Sagrada Família, Barcelona
No semestre seguinte, resolvi pagar um pouco a mais e ter aulas particulares. Foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Ainda que as discussões fossem limitadas às ideias dos professores e as minhas, pelo menos havia garantia que a aula iria sempre no meu ritmo. E eu sempre tive muita sorte, pois todos os meus professores eram muito fodões bons. Tive tutores da Argentina e Chile e outros que viveram no Uruguai, Paraguai e Colômbia. Quer dizer, gente com a mais variada bagagem de vida e que, sem dúvida, fizeram toda a diferença pra fazer daqueles momentos a dois o mais agradável possível.
Cada aula, na verdade, era uma viagem em todos os aspectos. Voávamos pelas paisagens latino-americanas, salivávamos ao invocar a gastronomia rio-platense e enlouquecíamos discutindo futebol. Gramaticalmente falando, aprendi, enfim, a conjugar o tu em português e descobri que o vós não tem jeito em idioma algum. Ortográfica e antropologicamente, descobri que muitas palavras (e atitudes) que só existem no Rio Grande do Sul aqui no Brasil derivam do intercâmbio cultural travado com nossos hermanos

Com o Juan, um dos grandes amigos e mestres

Em meio a tudo isso, eu pegava a estrada literalmente também. Foram várias as “escapadas” para a Argentina, Uruguai, Venezuela etc. ao longo dos últimos anos. A cada nova aventura, a sensação inenarrável de estar constatando ao vivo e a cores a minha evolução e ver a experiência da viagem cada vez mais intensa. No retorno às aulas, o prazer de poder encher os pulmões para dizer aos professores que todo o nosso esforço estava, aos pouquinhos, dando resultado.

¡DALE!
Fazendo justiça
Quando enfim se aproximou a data da minha formatura, em meados de 2012, sete semestres depois, não dei muita bola. Decidi ir à pomposa cerimônia mais em respeito à instituição e professores mesmo. Contudo, quando me pediram para escolher um professor a ser homenageado e me peguei num profundo dilema, pois tive tantos dignos disso. Aí que comecei a notar que o meu envolvimento com todo o processo que me levou àquela formatura havia sido mais profundo que eu mesmo imaginara até então...
No dia do evento, quando chamaram o meu nome e recebi o meu diploma, plim!, a ficha finalmente caiu de vez. Peguei o canudo e me dirigi ao microfone. Todos tinham o direito de falar umas palavrinhas, mas eu não havia pensado em nada e nem planejava fazer discurso relevante algum. Porém, agora tudo estava mais claro: eu falava fluentemente um terceiro idioma. E muito mais que isso: eu tinha ficado ao longo do processo um pouco mais livre, independente e, consequentemente, feliz. Eu era uma pessoa melhor por conta disso – e isso, por mais clichê que seja, não há dinheiro que pague. Senti-me na obrigação de agradecer tudo isso aos meus pais, professores e amigos. Com a voz embargada, o fiz; e nos olhos marejados daqueles a quem o meu breve discurso se endereçava, vi que aquilo foi provavelmente o meu maior acerto em 2012.

Com Carlos e Rodrigo, dois outros grandes amigos-professores

Aprender um terceiro idioma foi um meio eficiente e divertido de evoluir – o que sempre foi o meu objetivo maior, ainda que nem sempre isso esteja tão evidente para mim mesmo. Muito além de horas complementares, curiosidades bobinhas e conveniências, ao fim de sete semestres, eu havia conquistado amizades verdadeiras e descoberto que aquilo tudo era mais um significante passo nesta maravilhosa crescente que vivo e que aqui imortalizo. J